terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Um drink pela manhã

Fiz a besteira de experimentar como meu primeiro sentimento do dia,o drink da saudade. Ela desce fria em um copo de vidro que pode quebrar a qualquer momento. Você se pergunta o que poderia ter feito para adoça-la, pois agora ela é amarga. 
Ela desce pela garganta ardendo e bate em seu estomago doendo. Como posso me livrar? 
Mas já disseram: O tempo não para. No máximo eu morro de morte morrida, mas de saudade não! Não vai ser um veneno que me corroerá por dentro. Resisto, afirmo, ignoro. Ja ja vou no banheiro e ela vaza aliviada. Só até eu me lembrar dela de novo. 
Eu to bem, eu to bem... é só meu drama diário para não experimentar do tédio no café da manhã.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Arrependimento

Olá, boa tarde pessoal o/
Vi um post sobre uma pessoa do grupo perguntando como superar o tal do arrependimento. E ai eu voltei uns 8 anos da minha, vida quando eu decidi que não viveria uma vida arrependida. Então vou compartilhar esse relato, quem sabe ajuda alguém.
La estava eu com 15 anos de idade, entrando no ensino médio, sem autoestima, inseguro com meu futuro, triste com a vida, com a família, brigas constantes, falta de respeito e toda má sorte que uma adolescência conturbada pudesse oferecer.
Lembro de estar fazendo curso técnico e escola ao mesmo tempo. Eu me sentia tão pressionado que tinha dias que eu cabulava aula só pra pegar um ônibus e ir até o ponto final e voltar, só pra pensar na vida e me sentir um pouco livre.
Eu não tinha muito do que me arrepender. Já que aos 15 anos eu não tinha também muita atitude para fazer coisas diferentes. Mas via meus amigos cagando a vida usando droga, engravidando garotas com a mesma idade que a minha, se envolvendo com criminalidade, ou até mesmo sem querer alguma coisa da vida, apenas respirando e vegetando.
Então o tempo passou. Vivi meu ensino médio da forma mais penosa possível. Recatado, triste, sonhando com coisas que eu jamais teria, me perdendo por ai, ouvindo musica o dia todo para não enlouquecer e afins. Quando eu passei para o terceiro ano eu tive que tomar uma decisão.
Será mesmo que eu passaria minha vida inteira arrependido?
"Poderia ter chegado naquela garota, mas tive medo."
"Poderia ter feito outro curso tecnico, mas tive medo de não aguentar o tranco"
"poderia ter estudado em uma escola melhor mas tive medo de não passar na prova"
Decidi que dali para frente eu jamais viveria arrependido. De todas as decisões que eu tomasse, eu teria plena convicção do que estava fazendo pois era senhor do meu destino. Nisso eu ja tinha 17 anos.
Foi então que eu vivi um dos melhores anos da minha vida. Entrei para o curso de tecnico em segurança do trabalho. Fiz amigos, fiz teatro, fiz outros cursos, fiz karatê, foi um ano 100%.
Para não viver arrependido, temos que aceitar a simplicidade das boas escolhas. Se não sabemos escolher bem, então é bom confiar em pessoas que saibam ver melhor que a gente e possam nos aconselhar.
Aos 17 anos eu tive consciência de que a vida era tão fragil, apenas um piscar de olhos, eu tinha que viver feliz de alguma forma. Comecei a me livrar de alguns medos e receios. Em relação aos relacionamentos amorosos eu me encrenquei de mais ainda (tenho 23 atualmente) mas sempre que me lembro de todos, sei que foram lições grandiosas para minha vida. Cada pessoa que passou, eu aprendi alguma coisa.
Descobri que a vontade se originaliza diretamente do que você é grato. Ou seja, quanto mais você for grato por coisas boas, menos da vontade de fazer merda. Porque a vontade de fazer merda é um dispositivo do seu cérebro que te sabota.
Pois é o que eu sempre digo. Ou somos areia, ou somos pedra.
A pedra se molda com o bater do vento e da água. Mas a custo de muita dor e de tempo. Já a areia é livre para moldar um deserto inteiro de diferentes formas possíveis.
Já fiz alguns textos para o grupo e não me arrependo das bobagens que eu disse, pois isso cooperou para que eu melhorasse.
Parte do processo da atração envolve soltar para o universo o que você precisa. Reter magoa, rancor, é se atrasar espiritualmente.
Todos os dias afirmar positivamente "eu estou livre de toda magoa"
"o que eu fiz até aqui cooperou para o que eu sou até hoje, me sinto grato(a)"
"Obrigado(a) universo por ter me feito trilhar esse caminho, daqui pra frente farei melhor"
Quando vou tomar minhas decisões, eu penso:
O que o EU do meu futuro (10 anos a frente) pensaria do que eu estou fazendo hoje?
Percebamos então a diferença temporal no pensamento. Melhor do que se remoer pelo que não deu certo, é fazer melhor daqui pra frente ^^
Espero ter ajudado com esse relato, até novos ventos o/

A certeza de que vai dar certo

Porque tudo dá errado na minha vida?
Quem nunca parou para pensar nisso, que atire a primeira pedra. (e ainda erra haha). Primeiramente vamos entender algumas coisas:
1 - Sua realidade é responsabilidade sua.
O quanto antes você aceitar isso, melhor será para se alinhar com a realidade que você realmente deseja. Ou seja, se tudo dá errado para você, é porque primeiramente tudo começa errado DENTRO DE VOCÊ.
2 - O que é certo e o que é errado?
Nesse caso é questão de opinião e eu vou dar a minha. Se discordarem podem dissertar nos comentarios para que cheguemos a um entendimento.
Certo pra mim é fazer algo que respeita integralmente tudo e todos. Isso inclui você mesmo. Fazer o certo as vezes não é o que você pensa a partir de seus principios. Vejam as guerras que estão acontecendo. Os terroristas estão certos na cabeça deles. Ja na sua opinião, provavelmente terrorismo não seja algo bom para a humanidade.
Então perceba que fazer o certo é tudo que respeita a integridade sua e do proximo. E O que é fazer errado? É fazer algo que prejudica você e ao proximo. Mais para frente vamos pensar sobre isso.
3 - E o que isso tem a ver com o que vem dando errado em minha vida?
Você tem feito o certo por você mesmo? É extremamente relativa essa pergunta, mas eu suponho que fazer o certo por si mesmo é respeitar as regras universais. Você é grato pela sua vida? De verdade? O que tem saido de sua boca são coisas boas ou você reclama quase que 100% do seu dia? Respondendo essas perguntas, você percebe que tudo começa no âmbito da sua responsabilidade de abençoar a si mesmo. E isso é o certo a se fazer para que externamente as coisas deem certo.
Vou contar um relato. Senta que la vem historia.
Em 2012, como contei em outro post, eu estava no terceiro ano do ensino médio e cursando o técnico em segurança do trabalho que é a minha profissão. Eu tinha saído de uma experiencia extremamente traumatizante em 2009 quando cursei Design Grafico em uma escola muito rígida. Mas em 2013 eu já tinha mentalidade para lidar com algumas questões e mais compromisso comigo mesmo.
No entanto, naquele ano eu tinha um diferencial em mãos, uma carta na manga que faria total diferença na minha vida e justamente se refere à esse post. E o diferencial era:
"Eu parei de reclamar e comecei a me abençoar."
Não é questão de magia, é apenas lógica. As vezes a gente amaldiçoa demais nossas vidas e não percebemos por puro vicio. Lembra do curso de Design? Mesmo sendo algo traumatizante, em 2013 eu ja havia aprendido bastante sobre a area, isso serviu quando organizamos uma SIPAT (Semana interna de prevenção de acidentes) na escola. Eu fiz convites, cartazes, panfletos, etc. O que foi extremamente util para o grupo. As pessoas, independente de qualquer negatividade que elas carregassem, se motivaram a partir das coisas que eu fazia. Fiz grandes amigos e foi 1 semana de organização, felicidade, contentamento e satisfação. Nossa SIPAT ficou para a historia e exemplo daquela escola.
Ou seja, será mesmo que mudando nosso interior, podemos mudar o exterior? Sim. Pois nosso grupo tinha problemas, tinha pessoas desmotivadas, tinha atrasos, mas quando sua mente está bem, tudo vai bem. Em nenhum momento a gente pensou em dar errado. A gente pensava sim no que podia dar errado e preparava tudo com antecedência. Percebam a diferença:
Pensar em dar errado ≠ pensar em se precaver
A partir de então tudo em minha vida tem dado certo. Tudo que eu coloco as mãos tem dado frutos, porque a mudança começa em nossa mente primeiramente.
A formula para essa mudança é a seguinte:
1 - Mude o seu discurso = abençoe sua vida, abençoe suas ações, abençoe as pessoas próximas a vocês.
2 - Se policie = Quando você estiver amaldiçoando, pare, respire, anule.
3 - Confie = Confiar que tudo vai dar certo é essencial, pois você elimina os riscos para que as coisas deem errado.
4 - Gratidão verdadeira = Ser grato é a base para tudo.
Pratique isso todo dia, é demorado pois uma limpeza em sua mente acontecerá e você se transformará. Enfim, é isso que tenho para passar hoje. Tenho certeza que se fizerem isso muita coisa vai mudar, pois na minha vida mudou :)

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Pressão.

Eu não sei o que quero ser! Isso é maravilhoso e ao mesmo tempo trágico. Minha vida é uma panela de pressão cheia de água, juntamente com a indecisão do que eu vou cozinhar.
Geralmente eu faço de tudo, desenho, escrevo, analiso, pratico, etc. Quando me canso de algo, vou para outro lado. Até me cansar de novo. Por exemplo agora, estou escrevendo. Obvio.
Mas será mesmo que eu quero ser um escritor para a vida toda?
Esse pensamento começa a me sabotar e a pressão começa a fazer barulho. Então aparece quem queira ajudar, carregados de conceitos comuns da sociedade:
"-Relaxa você é novo" Eu já coloco o guarda chuva na bolsa sem minha mãe mandar.
Cara já já não tenho mais tempo, a sociedade diz que minha vida profissional maleável e útil vai até os 30 anos. E minha aposentadoria do jeito que ta indo, vai ser com 80 anos. FU.
"-Não esquenta, se cansar de algo, faça outra coisa. Você não é obrigado a ser sempre a mesma coisa" E o medo de ser pobre a vida toda?
"-menino, vai fazer uma faculdade!" Pronto! pegou no meu calo...
No natal em família, não me perguntam se eu já tenho namoradinha. Perguntam se eu já tenho uma "facultadinha"
Não... não quero fazer faculdade ainda, eu não sei o que quero.
"- Mas você tem que fazer algo para saber o que quer"
Bom... Se é para fazer algo, então vou fazer um ovinho cozido ali, que eu to com uma fome da moléstia!
Vou acabar meus dias sem saber o que vou fazer da vida e ao mesmo tempo fazendo tudo. Não consigo ser a mesma coisa para sempre, ah claro, consigo ser chato pra sempre, serve? Chato, hipocondríaco reverso, complicado, compulsivo, desmotivado, preguiçoso, etc. Isso eu sei bem ser, porém esses detalhes não são valorizados pela tal sociedade.
Logo eu começo a entrar em curto. Fico preocupado com o meu futuro e esqueço de viver o meu presente. Me sinto infeliz pela cobrança de ser alguma coisa. Aí me lembro que já sou alguma coisa, porém odeio ser.
Possuo duas profissões:
Design Gráfico e Técnico em Segurança do Trabalho. Duas coisas completamente diferentes. Em uma, do contrario que as pessoas acham, eu não faço arte. Eu faço coisas mecânicas para o cliente dizer que o sobrinho faz melhor e mais barato (e quando eu sou o sobrinho?). Já a segunda é burocrática, chata, política e cansativa. Porque eu as fiz? Pressão, pressão... BOOM!r
"Ah jeff, não se cobre tanto"
O medo de não ser nada, já sendo tudo, é o que me corrói... e me faz digitar esse texto 5:32 da manhã fazendo o maior drama.
Aqui estou eu... Largado na lama da indecisão, com uma garrafa de Dolly na mão e um CD do Calypso na outra. Maldita pressão.


domingo, 11 de dezembro de 2016

Cronicas fúnebres, capitulo um: Primeiros erros

Fiz esse texto como desafio mensal do grupo Pena e Tinta. 

Link >https://m.facebook.com/groups/1038044466222933

Cronicas fúnebres, capitulo 1: Primeiros erros.

La estava eu, como sempre costumei estar. Aquele hospital já era comum em meus dias. Os corredores brancos, o piso encerado, a recepção com uma arvore de natal que se repetia ha quase cinco anos. Nada parecia estranho.

Já conhecia o caminho, fui direto, sem demora. Gosto de andar pelos corredores da pediatria, para que só por um segundo observar aquelas crianças agitadas e curiosas. Umas com medo de injeção, outras aos berros depois de ter provado da mesma.

Decidi ficar ali sentado observando como elas lidam com a realidade. A verdade é que elas adoram correr e brincar, mas geralmente, quando fazem muita bagunça os pais as repreendem com uma bronca.

Uma delas, corria alegremente atrás de um coleguinha de sua idade. Suas perninhas quase não acompanhavam os tropeços de seus tênis "pisca pisca". Mas aquele brilho não demorou muito, capturada por um adulto, foi arrastada até uma cadeira mais próxima.

- Fica aqui e não sai mais Felipe!!! Ordenou sua mãe dando um tabefe no braço do garoto, já irritada com a correria, enquanto olhava de canto de olho para as pessoas que observavam. .

O tal do Felipe, um garotinho de 3 anos de idade, baixou a cabeça com os olhos cheios de lagrima. Seu bracinho ardia e ele tentava acabar com a dor segurando o lugar vermelho com o outro braço. Olhou para o seu companheiro de arte, outro garotinho que ainda continuava a correr, chamado Carlos.

Carlos por sua vez não tinha nenhuma atenção da própria mãe, que lia uma revista sobre moda enquanto aguardava ser chamada pelo medico. Por isso Carlos corria de lá para cá pelo corredor e isso causava em Felipe seus primeiros sentimentos de inveja.

"O que não daria para que sua mãe revogasse a ordem de ficar sentado e quieto."

As vezes os pais não entendem que toda criança é uma estrelinha, que depois que nasce, precisa extravasar energia para todos os lados. É raro, mas não impossível, existir pais que diante do agito da infância, consigam ser criativos o suficiente para acalmar os ânimos, sem subjugar a felicidade da criança. (...)

Eu tive uma filha um dia... Será que eu poderia ter levado ela aos parques mais vezes, ao invés de trabalhar tanto? Depois de tantos anos eu já não sei bem o que pensar sobre isso, ela não se importa mais comigo... O que eu não daria para te-la de volta em minha vida. Fiquei sabendo que ela já tem um filhinho, mas é um tanto quanto impossível que eu consiga leva-lo para correr um pouquinho.

(...)Sabe quando a gente começa a pensar em um passado distante e independente do lugar onde se esta, terminamos perdendo o foco de tudo e imergindo na lembrança? Passei a mão no rosto e voltei à realidade, voltei a observar o Felipe que ainda continuava sentado olhando para seu amiguinho correr, feliz da vida. O sentimento de injustiça corroía Felipe, não era preciso ser adulto para sentir algo assim. De repente ele olhava para sua mãe esperando um:

"- Tudo bem, vai la, pode brincar."

Seu olhar se equiparava com o de um cachorrinho que clamava por liberdade.

- Não adianta ficar me olhando, fique quieto já já a enfermeira vai te chamar! Ralhou sua mãe.

No mesmo momento Felipe ficou branco... lembrou da tal da injeção. Naquele instante a cabeça do garoto deu um nó! Ele não conseguiu lidar com o medo de ser espetado. Em um ato de desespero Felipe levantou e correu, mas dessa vez não até o fim do corredor como seu amiguinho, mas para muito além. Sua mãe furiosa e contrariada gritou seu nome alto, mas nem a ameaça de tomar uns tapas seria suficiente para que ele suportasse o medo de tomar injeção.

Felipe correu como nunca.(...)

Lembro de quando eu fui tomar injeção pela primeira vez. Minha mãe segurou forte no meu pulso e me arrastou até o consultório do médico. Eu estava gripado fazia uma semana e tinha que tomar uma tal de Bezentacil. Aquilo era crueldade demais! Mas eu não podia reclamar. Segurei firme o choro, tentei controlar a dor, porém, quando a enfermeira enfiou a danada, minha coxa deu um tranco involuntário e doeu ainda mais. Fui para casa mancando e minha mãe mandou eu parar de drama... Criança não tem muito do que se arrepender... mas eu me arrependo de não ter gritado para amenizar a dor.

(...)Sai de meus pensamentos e voltei a situação do Felipe, olhei para o relógio que marcava três e meia da tarde, percebi que ainda tinha tempo até que desse minha hora e consecutivamente eu precisasse fazer meu serviço que seria quatro e meia. Ainda surpreso com a atitude do Felipe, fui atrás do danadinho para ver até onde ele conseguia ir.

Ele correu, correu e correu. Engraçado como criança pode correr tanto sem ofegar. As pessoas eram apenas vultos perto da velocidade dele. Ele não pensava para onde ia, queria apenas chegar a algum lugar onde não existisse ordens, nem injeção.

Finalmente, ele achou uma porta aleatória. Já estava longe da área de exames, agora em uma ala de quartos da pediatria. No quarto que ele entrou era do tipo leito. Tinha quatro camas. Duas de frente para outra, mas apenas uma delas ocupada. Na cama ocupada havia uma pessoa de aproximadamente 16 anos e em volta dela cinco pessoas. Uma mulher sentada ao lado da cama, outra mais velha que segurava seu ombro. Um garoto próximo a janela e mais dois homens do outro lado da cama. Todos se espantaram quando Felipe invadiu o quarto, deixando assim porta escancarada. Já eu, fiquei na porta observando para ver a reação de todos.

Felipe olhou para a pessoa em cima da cama e percebeu que ela estava careca, não sabia diferenciar se era menino ou menina pois a pessoa tinha uma máscara no rosto seguida de tubos de oxigênio por baixo. Felipe não teve muita reação, jamais vira alguém naquele estado, apenas ficou parado olhando.

Para a surpresa dele, a pessoa que estava na cama deu um sorriso por trás da máscara e lhe estendeu a mão.

- Vem cá...

Felipe temeroso deu intenção de ir, mas hesitou. Já estava arrependido de ter corrido de sua mãe. No entanto, a pessoa de máscara logo o chamou atenção, mostrando para ele um vídeo game portátil que tirou de trás de seu travesseiro. Enquanto isso as demais pessoas do quarto observavam.

- Pode pegar se quiser, eu não vou brincar mais com isso. Ofereceu a pessoa de máscara.

No mesmo instante uma mulher que estava sentada e um pouco prostada sobre a cama, depois de ouvir aquilo começou a chorar penosamente. Era uma mulher roliça de cabelos cacheados e roupas largas. Logo foi abraçada por outra mulher mais velha que ela, que mesmo mais magra, se parecia muito com ela.

- Calma Ana... Calma... Pedia a mulher mais velha.

- Eu não vou suportar... eu não vou!

- Mãe... por favor, eu te pedi para não fazer isso. Interrompeu a pessoa de mascara.

- Rebeca, você vai conseguir, a gente pode procurar um tratamento alternativo. Clamou Anna procurando pegar a mão da filha.

- O medico ja disse mãe.. e eu ja estou cansada... me escuta por favor.

- NÃO! Gritou Anna que procurava pegar a mão da filha Rebeca sobre a cama, mas a mesma evitava. - Eu não vou suportar...

- Para com isso Anna! Disse uma das pessoas que estavam no quarto.

- NÃO PARO! NÃO SE METE AUGUSTO! VOCE PASSOU ESSES ANOS TODOS OMISSO! Gritou Anna.

- La vem você com essas merdas, Anna, não respeita a decisão da nossa filha. Não respeita nada. Argumentou o homem com um olhar de desprezo.

- VOCÊ NÃO LIGA PRA NINGUÉM AUGUSTO, NÃO LIGA!

- Vamos parar com isso já! Respeitem o local onde estamos! Vocês não conseguem lidar com o outro nem nesse momento? Interviu o outro homem no quarto, só que esse de cabelos grisalhos, o rosto cheio de rugas além de muito magro. Em um bolso, em seu peito, tinha um masso de cigarros.

Depois que ele disse isso, os ânimos se acalmaram.

- Desculpa Souza... desculpa... Disse Augusto olhando para os lados.

Após a discussão, eles finalmente se tornaram suas atenções para Felipe. A garota, Rebeca, ainda oferecia o video game para o menino. Felipe andou devagar, foi até ela e pegou o aparelho.

- Ei rapazinho, onde estão seus pais? Perguntou Souza.

Felipe não respondeu, estava mais interessado no seu novo jogo. Então o mesmo homem, depois de perceber que Felipe não ia se pronunciar, se ofereceu para leva-lo até sua família.

- Acho que vou levar ele na recepção para procurarem a família dele, querem alguma coisa? Um café? Perguntou.

- Acho que não consigo tomar nada. Disse Anna que agora enxugava as lagrimas de seu rosto.

- Eu quero um. Pediu o rapaz da janela.

- Deixa de ser preguiçoso e vá você buscar Renan! Ralhou Augusto.

- Para de ser tão duro com ele, Augusto!!! Gemeu Anna enquanto limpava o rosto.

- Não se mete, Anna! Respondeu augusto virando imediatamente e apontando o dedo para ela com violência.

- VOCÊ NUNCA SE IMPORTOU COM NOSSOS FILHOS, AGORA QUER PAGAR DE BOM PAI! Gritou Anna com o rosto todo vermelho.

- Fodam se vocês dois, xingou o rapaz na janela.

- Renan não fala assim, por favor. Clamou Rebeca dando algumas tossidas sem folego.

- Cala sua boca você também, senhorita especial! Respondeu Renan imediatamente.

- Agora eu te arrebento! Gruniu Augusto se dirigindo com violência em direção a Renan que esbugalhou os olhos em alerta.

- PAREM!

A mulher mais velha se colocou na frente e segurou Augusto pelo braço. Embora aparentasse ter mais de cinqüenta anos, demonstrou força o suficiente para impedir o homem de agredir o rapaz.

- Olhem o que estão fazendo! Olhem para vocês, parem com essa merda já! Vai todo mundo sair daqui, TODO MUNDO!

Rebeca estava tossindo e Felipe ja estava extremamente assustado com aquela situação, devia estar pensando onde tinha se metido. Mas o video game era tão divertido que ele não quis voltar para sua mãe ainda. Em sua casa seus pais brigavam com constância, ele ja não se incomodava com essa situação. (...)

Vendo aquela situação lembrei de quando eu me empenhava mais em discutir com a minha esposa durante a noite, sem me importar com o que minha filha pensaria daquilo... Se eu pudesse voltar no tempo, faria diferente com certeza...

(...) Depois que os ânimos se acalmaram, o homem chamado Souza olhou para Felipe e disse.

- Vamos? Sua mãe deve ta preocupada e você não deveria estar vendo essa situação... pelo amor de deus...

- Não... não o leve, deixa ele um pouco comigo? Pediu Rebeca limpando sua boca com um lenço.

O homem olhou para Felipe e pensou um pouco consigo mesmo mediante ao pedido. A mulher mais velha então se pronunciou novamente.

- Souza, leva a Anna la pra fora um pouco, ela precisa respirar.

- Não... eu quero ficar aqui com a minha filha! Disse Anna ainda deitada segurando a mão da criança.

- Vamos Ana, você não comeu nada hoje! Disse Souza.

- Ela nunca come quando ta preocupada, fica se matando, adianta de quê? Comentou Augusto.

- AGORA VOCÊ SE IMPORTA COMIGO? SEU CANALHA!

- Pra mim já chega... Disse Augusto se retirando da sala.

Souza pegou na mão de Anna e levou ela para fora do quarto enquanto ela derramava lagrimas e soluçava.

- Vai la Renan, sai um pouco desse celular e vai ver a luz do dia. Disse a mulher mais velha

- Pode ir também, vó. Eu vou ficar bem, qualquer coisa eu chamo a enfermeira. Disse Rebeca. - Vou ficar aqui com meu novo amiguinho, ele vai cuidar de mim não é?

Felipe olhou sem entender e fez que sim com a cabeça.

- Tudo bem... eu preciso pedir para trocarem esses lençois... Ja volto, viu, meu amor. Te amo! Não fica triste por causa dos seus pais... eles ainda não aprenderam nada.

- Certo, vó. Obrigada por ser maravilhosa!

- Eu te amo.

- Te amo também...

A mulher saiu do quarto e ficaram apenas Felipe e Rebeca.

Passaram se os minutos e Rebeca colocou Felipe para sentar ao lado dela e explicava pra ele como lidar com o vídeo game. A cada vez que ele perdia, ambos riam e se divertiam. Então Rebeca tomou coragem e perguntou:

- Como é seu nome?

- "Filipi"...

- Como você veio parar aqui, Felipe?

Felipe pensou um pouco... mas mesmo temeroso respondeu sem tirar o rosto do video game portatil:

- "Jeção"...

- Ah sim, as injeções... já tomei muitas!

Felipe olhou para a garota surpreso.

- "Ondi"?

- No bumbum! Respondeu Rebeca.

Felipe começou a rir.

- Porque você tem que tomar injeção?

O garoto parou um pouco de jogar e pensou por alguns segundos.

- "Sangui".

- Ah sim, você tem que fazer exame de sangue...

Ambos pararam um pouco e ficaram refletindo sobre o tal do exame de sangue. Logo Rebeca quebrou o gelo. Felipe percebeu que ela estava cansada e falava com sem folego. Seus olhos quase fechavam.

- Eu to doente sabia, Felipe?

O menino largou o vídeo game mais uma vez e olhou para Rebeca espantado. Talvez isso explicasse porque ela estava de mascara, então, curioso, apontou para a mascara dela.

- Ah isso? É porque meu organismo esta muito sensível, qualquer coisa pode infeccionar minhas amídalas .

Felipe aparentou não ter entendido o que ela disse mas sabia que não era bom. (...)

Lembrei da vez que minha filha ficou doente. Foi a primeira vez em anos que eu finalmente me dei bem com a minha esposa. Por um bem comum a gente trabalhou junto, enquanto um esquentava as compressas para febre, outro verificava a dosagem dos remédios. Aquilo durou uma semana e mesmo preocupado com a Isabela, eu fiquei feliz em estar novamente bem com a minha esposa. Deveria ter dito que a amava e me desculpado por tudo naquele instante... deveria... Mas não fiz e me arrependo todos os dias por isso.

(...) Voltei a observar a cena. Rebeca mesmo cansada continuava a conversar com o garotinho.

- Você tem que fazer os exames Felipe...

- Não... Respondeu Felipe com rebeldia focando ainda mais no vídeo game.

- Quando eu tinha sua idade eu fiz um exame e mostrou que eu tinha uma doença. Mas isso não foi totalmente ruim, porque descobriram logo cedo e eu pude fazer um tratamento bom e viver até hoje.

Felipe pareceu abrir um pouco mais sua opinião em relação a tal da injeção, mas torceu o nariz.

- Mas dói...

- Eu sei que dói! Disse Rebeca puxando a manga do seu pijama hospitalar. - Vou te mostrar uma coisa, promete não se assustar?

Felipe fez que sim com a cabeça.Quando ela subiu a manga totalmente, mostrou seu braço com uma agulha liberando soro. Ela esperou que Felipe se assustasse, mas ele permaneceu firme olhando para o cateter, que era rosa e cheio de florzinhas.

- Pode? Perguntou Felipe estendendo a mão.

- Sim, mas com cuidado. Respondeu Rebeca.

Felipe deu alguns toques delicados na agulha no braço de Rebeca.

- Dói?

- Na hora dói sim, mas eu penso na coisa mais divertida do mundo e ai eu nem sinto. Geralmente eu to jogando vídeo game quando a enfermeira faz.

Felipe olhou um pouco para o vídeo game e ficou refletindo.

- Hoje eu recebi uma noticia muito ruim, Felipe. Mas pra mim não é tão ruim assim, acho que meu sofrimento vai acabar. Obrigado por estar aqui hoje comigo, eu precisava de alguém que preferisse conversar a brigar.

Felipe olhou para Rebeca e não conseguiu entender muito bem o que ela estava falando. Apenas apontou para a cabeça dela, que estava careca.

- Ah isso? Riu Rebeca. É parte do sofrimento, eu amava meu cabelo.

Rebeca pegou seu celular e mexeu por alguns segundos.

- Olha! Disse ela tomando a atenção de Felipe

Então mostrou para ele fotos dela pequena com um cabelo grande e cacheado.

- Eu amava meu cabelo... Disse Rebeca com os olhos cheios de lagrima. - Mas a gente se acostuma...

Felipe não soube o que fazer, decidiu voltar a atenção para o vídeo game novamente.

Ambos ficaram em silencio por alguns minutos. Depois de perder mais algumas vezes, o vídeo game descarregou. Felipe se lembrou de sua mãe e da surra que levaria por ter ficado tanto tempo longe ficou branco novamente, a injeção ja nem era tão amedrontadora perto do que sua mãe poderia fazer com ele. Seus olhos começaram a se encher de lagrima. Rebeca percebeu a aflição do menino.

- Que foi Felipe? Perguntou

- Mamãe...

- Oh... Acho que meu avô Souza vai trazer ela já já. Deixa eu colocar o vídeo game para carregar...

Rebeca tentou se mexer mas não conseguiu. Estava fraca demais até mesmo para levantar da cama.
Naquele instante o pai de Rebeca, entrou no quarto com a mãe de Felipe que chorava e correu até o filho, abraçando e beijando - o.

- Como que você me da um susto desse Felipe? Perguntou olhando para o filho.

Felipe não sabia o que dizer, apenas se rendia aos abraços da mãe, assustado, já que ele esperava por uma bronca seguida de uns tapas.

- Viu Felipe? Olha sua mãe ai. Disse Rebeca rindo.

- Me desculpa, moça... Disse a mãe de Felipe.

- Tudo bem, ele me fez companhia, não é Felipe? Afirmou Rebeca sorrindo.

- Vamos filho? A enfermeira ja esta chamando.

Felipe olhou para Rebeca e viu que ela sorria.

- Coragem Felipe! Disse a menina. Ele sorriu.

- Diz obrigado pra moça.

- "Bigado"...

- Que isso... obrigado você por me fazer companhia. Dito isso, Rebeca pegou o video game e deu para Felipe com o carregador e alguns jogos. - Espero que você se divirta muito!

- Não moça, nossa... isso é caro... Disse a mãe de Felipe.

- Nada disso, eu não vou mais usar e ele gostou muito. Pode levar. Respondeu Rebeca simpática - Adeus Felipe.

Então depois de se despedirem, Felipe acompanhou sua mãe para fora do quarto, mas olhava para Rebeca até onde pode.

Olhei para o relógio e vi que ja eram quatro e trinta e cinco, estava atrasado!

- Rebeca, eu vou chamar sua mãe, ta tudo bem com você? Perguntou seu Pai. Rebeca fez que sim com a cabeça, mas na verdade ela se sentia extremamente cansada e com sono. Mas não queria preocupa-lo.

Depois que ele saiu do quarto, eu tive que entrar. Já estava muito atrasado!

- Ola Rebeca... Vamos?

A garota me olhou com seus olhos cansados e balançou a cabeça negativamente.

- Minha mãe... Ainda não...

Eu já estava com o horário estourando e isso tem consequências terríveis.

- Desculpa... Já esta na hora mesmo!

- O que acontece depois que a gente for? Perguntou a garota com seus olhos baixos.

- Bem... eu não sei, minha tarefa é só levar você até la.

- Eu não sei quem é você, mas parece que já somos conhecidos. Comentou Rebeca.

- Geralmente as pessoas pensam isso mesmo. E ai, viveu uma boa vida?

- Foi bem difícil... mas acho que sim, não tenho arrependimentos. Só queria viver mais um pouco, o medico disse que só tenho alguns dias. Disse rebeca quase dormindo.

- Na verdade é hoje o seu dia. Respondi me aproximando e pegando em sua mão.

- E o Felipe, ele vai ficar bem?

- Vai sim, no caminho a gente vai ver ele.

Os olhos de Rebeca começaram a se fechar e ela dormiu suavemente. Quando sua mãe chegou Rebeca já havia partido comigo. O irmão de Rebeca, o rapaz que ficava na janela, já não tinha aquela posição orgulhosa diante da situação. Agora saia do quarto com lagrimas nos olhos e arrependido de ter agido como um babaca.

A mãe de Rebeca caia aos prantos e pedia desculpa segurando a mão da filha. O pai de rebeca abraçava sua mulher e chorava juntamente. Seus avós também não conseguiam conter as lagrimas. Dali eram os únicos que pareciam não estar arrependidos diante da situação. Pois sempre fizeram de tudo pela neta, ao invés de ficar brigando entre si.


- Finalmente acabou o sofrimento dela... Dizia souza para consolar sua mulher, dando um beijo em sua testa.

Enfim, era o fim.Rebeca deu uma ultima olhada para sua família e partimos. Quando passamos pela ala de exames e vimos Felipe tirando sangue, estava agarrado ao vídeo game e com valentia se segurava para não fazer careta e nem chorar. Depois que a enfermeira tirou a agulha e estancou o sangue, deu um pirulito e uma mascara hospitalar para ele.

- Que menino valente! Parabéns viu?! Disse a enfermeira. - Quem te ensinou a ser assim, foi a mamãe?

- "Beca!" Respondeu Felipe chupando o pirulito. Era um garoto de poucas e objetivas palavras, de fato.

Felipe colocou a mascara e falou para sua mãe sobre Rebeca. Na saída ele viu seu amiguinho Carlos, e então tomou coragem, olhou para sua mãe esperando que ela o liberasse um pouco para brincar. Ela parecia ter aprendido a lição, sentir que poderia ter perdido seu filho por um segundo a fez pensar um pouco mais no quanto era dura com ele. Portanto sem dizer uma palavra, apenas com um sorriso e um aceno com a cabeça, permitiu que ele fosse brincar um pouco. 


Enquanto as crianças corriam felizes, Rebeca ria satisfeita ao meu lado.

- Esse garoto é muito especial! Comentou.

- É sim...  respondi.

- Posso visitar ele de vez em quando?

- Não é assim que as coisas funcionam desse lado. Acho que faz até mal para ele. Respondi meio desconcertado.

- Entendo... E meus pais...

- O que você pôde fazer para eles ficarem juntos, você fez.

- E meu irmão...

Toquei em seu queixo e levantei seu rosto para que eu pudesse olhar em seus olhos, então disse.

- Rebeca, por eles você não poderá fazer muita coisa. Não fique se preocupando ta? Agora você precisa ficar em paz, caso contrario, vai ficar apegada nessa realidade para sempre. Dito isso, lhe dei um abraço.

- Vamos?


Ela deu uma ultima olhada em Felipe.

- Sim... estou pronta.

Rebeca partiu em paz

Depois que a levei, fui para casa, mas antes passei em uma praça para admirar o por do sol. Ja eram 6 da tarde e mesmo cansado, eu não me sentia exausto. Hoje eu aprendi mais um pouco sobre a vida de algumas pessoas. A vida é tão curta, que se a gente parar pra ficar brigando e se atacando... uma hora não da mais tempo de se desculpar. As vezes somos duros demais com nossos filhos, ou relapsos, a verdade é que devemos prestar atenção e refletir sobre isso. Já que hoje não posso mais ver minha filha, preciso ainda pagar meus pecados e acompanhar as pessoas em seus últimos momentos. Se eu pudesse voltar no tempo, com certeza o faria, mas o que me resta é fechar os olhos e não me sentir arrependido pelo que não fiz por ela... do contrário.. enlouqueço. ah se eu pudesse concertar meus primeiros erros...