quinta-feira, 6 de outubro de 2016

O urso e a flor

Hoje eu estava me lembrando de uma historia de amor.
A historia do urso e a flor.
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Aviso desde já que:
Não é uma historia feliz, os personagens em questão não são perfeitos como os vendidos por Hollywood. Essa é uma historia real contada através de uma fabula. Que tem inicio, meio e fim.
Peço que leve uma lição dessa historia, ou ela será apenas uma memoria em vão.
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Era um dia ensolarado, me lembro bem.
Foi quando eu conheci ela.
Eu estava andando pela floresta procurando um pouco de mel. E sem que eu percebesse, ela estava la olhando para mim com um sorriso.
Era uma flor muito bela.
Ja estava ha muito tempo nessa terra e tinha visto muitas coisas.
Não era uma flor comum. Daquelas que você tira do chão com facilidade.
Ela era especial.
Suas cores não tinham sido pintadas pelas leis da floresta.
Ela mesma havia pintado suas cores e em baixo de uma grande arvore tinha feito seu jardim.
Ao acaso eu estava passando por ali.
E ao acaso ela me notou e sorriu.
Naturalmente eu não estava acostumado com sorrisos e achei um tanto quanto estranho.
Geralmente quando os outros seres veem um urso, costumam correr.
Obviamente uma flor não tinha para onde correr, mas nem ao menos se assustou com a minha aparência grosseira.
Nesse dia eu estava cantando uma musica. Que dizia o seguinte:
"Para todos a lei é certa
Tudo o que você diz é meta
Você cria sua queda
Que se ergue como labareda"
Era uma musica de sabedoria.
Para aqueles sedentos de mudança em suas vidas.
Diante de todos os seres da floresta, só ela notou a minha musica.
- Oi, adorei sua musica. Com um sorriso ela disse. - É tão diferente das outras...
Eu não estava nada acostumado com elogios e achei mais estranho ainda, mas resolvi ser cordial.
- Obrigado,senhorita flor! Suas cores são muito bonitas, sabia? Respondi alegremente.
Percebi que ela corava, pois recebia muitos elogios por dia, mas quando recebeu o meu, viu verdade em minhas palavras.
Ela só precisou me dizer oi para que começássemos a conversar todo santo dia.
Nem precisava me esforçar muito, ela sempre me recebia com um bom dia completo e elogios.
Eu conhecia muitos seres da floresta, mas nenhum era como ela.
E meu interesse aumentava cada dia mais.
Não tinha um dia em que não conversássemos e nos conhecêssemos um pouco mais.
Logo percebemos que tínhamos uma ligação muito forte e muitas semelhanças.
Era tão magico, que quando ela sentia algo, eu também sentia mesmo que quilômetros de distancia.
Toda tarde era especial ao lado dela.
Todas as musicas que eu sabia, fazia sentido com ela.
Toda minha inspiração começou a partir dela.
E nos momentos em que eu estava furioso, la estava ela comigo.
Nos momentos felizes também.
Eu contava toda minha sabedoria para ela e ela me admirava.
Estudávamos juntos as leis da floresta e da vida.
Foi a época em que eu mais aprendi sobre a minha própria espiritualidade.
Eu sequer sabia o nome desse sentimento que ela despertava em mim.
Simplesmente me sentia confortável e feliz por ter ela ao meu lado.
De repente aconteceu.
Nos vimos apaixonados um pelo outro.
Era uma paixão forte e linda.
Todos os meus poemas e declarações eram para ela.
E o tempo passava, e dias pareciam anos, nossa paixão e confiança só aumentava.
Foi ai que os problemas ja pareciam pesados demais.
Ela, em seus momentos de pavor, arrancava as próprias pétalas.
Eu sequer conseguia ajuda - la com minhas patas, pois poderia despedaça-la.
Nesses momentos ela se escondia de mim e pedia que eu não falasse com ela.
Ela se esquecia de tudo o que eu significava para ela e se rendia ao medo...
Eram momentos de preocupação extrema, porem, no outro dia ela aparecia supostamente bem.
Ela era uma flor linda, mas era cheia de traumas e segredos.
Cultivados desde quando era um botão.
Sofreu demais nessa vida e infelizmente guardou tudo dentro de si.
E isso aparecia em seus ataques contra si mesma.
Já eu, era um urso poderoso e talentoso, mas com uma alma turbulenta e complicada.
Complicada demais para o amor que ela sentia.
Eu a estudava todo santo dia. Não deixava nenhum detalhe passar, podia desmontar e montar ela varias vezes seguidas. Eu me aprofundava cada dia mais no interior daquela flor.
Como um romântico nato, eu sabia exatamente o que ela queria para suprir sua carência e assim o fazia.
Eu fui o único que conseguiu despertar algo fascinante e avassalador dentro dela.
Eramos felizes.
Ela me ensinava milhões de coisas apenas estando ao meu lado.
Eu entendia então como funcionava uma alma feminina.
Confusa em sua essência e certeira em suas vontades.
Dava tudo o que ela precisava e ela me dava amor.
Mas o amor dela era muito pesado e sufocante.
Tinha dias que eu precisava ficar um pouco longe dela.
Existiam manhãs em que eu não sentia nada por ela e eu pedia sua compreensão, apenas para me desafogar um pouco.
Na época eu era jovem, portanto estava em constante conflito interno.
Isso a machucava bastante.
Nós sequer podíamos nos tocar, pois ela era delicada e eu demasiadamente bruto.
Alem do que eu em minha imensidão de peso, musculos e gordura, não conseguia alcançar o seu jardim.
Um toque e ela se desmontava.
Com o tempo a gente se dividia entre problemas e soluções.
No entanto eu sentia que ela, embora me amasse, também me faltava com respeito.
Ela não permitia que eu entrasse no jardim dela.
Me escondia das outras flores, tinha medo que descobrissem que ela se relacionava com um urso.
Enquanto eu andava quilômetros só para ter ela por perto.
Me esforçava todo dia para construir nosso refugio.
Lutava contra meus demônios para ser bom com ela.
Ela se rendia ao vicio do medo.
A flor era viciada em medo e isso impedia ela de viver a vida.
Eu alertava ela que tudo que a gente pensa, resulta em algo na realidade.
Uma das leis básicas da vida.
Mas ela insistia no erro.
Ela dizia que um dia eu ia abandona-la e eu tentava concertar o discurso dela.
Então caia em si e me dava a certeza.
Mas internamente ela criava nossa separação, sem sequer perceber.
Ainda sim a gente lutava, tinha dias de gloria, dias de luta, mas nada se resolvia.
Eu pedia que ela se abrisse comigo, mas ela preferia se fechar no mundo dela.
Ela sabia que eu era um urso de talento, mas caótico por dentro.
Mesmo assim ela caia no erro de criar uma imagem magnifica de mim.
Eu também errava nesse quesito.
Foram dois meses em que nos relacionamos emocionalmente.
Pareceram anos.
Essa flor ja tinha uma vida em seu jardim. Mas não queria que eu entrasse para a vida dela, queria apenas viver uma realidade alternativa comigo.
Ela jamais deu espaço para o urso visita-la de verdade, preferia se enganar.
Eu era um amante, mas isso não me bastava.
Muitos conheceram o urso nessa vida.
Sabiam que ele era magico e transformava vidas com suas palavras.
Ela sabia disso mas não tinha coragem trazer ele para a vida dela.
O urso se irritava com covardia... mas tentava compreender, mesmo depois das explosões de raiva.
Então ela começou a passar por problemas ainda mais pesados.
Ele sempre esteve junto dela.
Ele sabia que ela tinha uma doença emocional e ele tentava tratar ela. Mas ela nunca o deixou entrar em sua vida, como eu disse.
Os problemas pesavam, mas o urso estava la ao lado dela e se esforçava para achar soluções. Deixava de lado os proprios problemas para ajuda - la. Porem, ela continuava impedindo que ele fizesse parte de sua vida real, preferia ele como um sonho...
Depois de tanta insistência, ele desistiu.
Isso o deixava extremamente triste...
O tempo passou e eles ja estavam acostumados um com o outro.
Porem, de repente um dia a flor murchou para o urso.
Simplesmente não tinha mais paixão por ele.
Dizia que o amava, mas aquilo era artificial, só existia dentro dela.
Ela não entendia como o urso não a amava de verdade, mas nem o próprio amor dela era real.
Uma mentira que ela contava todos os dias para si mesma.
O urso teve uma das piores decepções de sua vida...
Teve que destruir tudo o que construiu para eles.
Tudo por conta da covardia dela e o orgulho dele.
Ela alegava que tinha seus reais motivos para esfriar com ele, no entanto, não os contava e deixava o urso as cegas.
Dizia que o amava, mas o deixou abandonado no escuro.
Achava que um bom dia e um boa noite era tudo o que ele precisava.
Então o urso esfriou.
Depois de muito chorar ele levantou a cabeça e matou tudo o que sentia por ela.
Ele tambem era complicado e caotico.
O amor que ele sentiu por ela se tornou desprezo.
Ele odiava a corvardia dela.
Um dia quando estava mais exaltado agrediu ela com palavras e verdades.
Mas ela não esboçava reação... Apanhava, apanhava com palavras e não reagia.
Foi aí que ele entendeu!
Ela era maltratada pelas outras flores constantemente.
E quanto mais as outras flores a sufocavam e agrediam menos ela esboçava reação.
Isso desencadeava uma incompreensão nas outras flores que a maltratavam com mais fervor.
Ela ao invés de despertar o amor nos outros, despertava crueldade...
Será que ela sabia disso?
Não importa.
Agora o urso ja havia ido embora.
Ja não sentia carinho por ela.
Ele era orgulhoso demais e isso iria mata - lo algum dia.
Enfim se separaram.
As coisas aconteceram rápido demais.
A historia de amor começou no verão e acabou um pouco antes começo do outono.
Ela dizia que queria continuar amando ele.
Mas aquele amor parecia acido quando caia em cima dele. Algo totalmente artificial que ela sequer entendia o quanto aquilo era danoso.
Ela criava um amor só dentro dela e sequer percebia o quanto isso era nocivo.
Aquilo o irritava ainda mais...
O urso se decepcionava a cada manhã
Só de pensar nela, dava dor de barriga.
Pois ele não conseguia compreender a covardia.
Ela pediu que eles fossem amigos.
Mas tudo em relação a ela, ele matou.
Aquela historia de amor transformou se em uma triste historia.
Por conta da covardia e do orgulho.
Pois a flor teve medo de viver a vida.
E o urso não sabia amar incondicionalmente.
Eles se acusaram de mentirosos, pois fizeram promessas.
Porem, agora não adiantava mais.
Hoje eles continuam seguindo suas vidas.
O urso continua procurando mel por ai e cantando suas musicas.
Ela continua evitando qualquer perigo que ameace o jardim dela.
Foi assim que acabou a historia de amor do urso e da flor.
Ele conhecerá outras flores nessa vida.
Ela, outros ursos.
A vida segue na floresta.
Restam as boas memorias.
Por Jefferson Calaça.

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