sexta-feira, 22 de maio de 2020

Memorias póstumas de um apaixonado.

Memórias póstumas de um ex apaixonado.

Por muito tempo andei apaixonado. E eu morri todos os dias por isso. Mas eu acreditava fielmente que aquela paixão me faria estar perto de quem eu queria tanto. Imaginava para nós um futuro lindo onde viveríamos felizes para todo o sempre. Mas isso é para os livros que são escritos e vivem para sempre. Ou até não serem queimados ou esquecidos. Até eles não são eternos, diga lá a minha paixão. Mas eu acreditava com todas as minhas forças e todos os dias lutava para que ela pudesse se consolidar.

Lembro daqueles dias. Era gostoso até. Ouvir aquela musica boa e pensar na pessoa. Eu gostava especialmente da Linger - The Cramberries... nossa... Que musica linda. Eu não sabia nem mesmo a tradução, mas eu ouvia aquela melodia e me imaginava com a pessoa. Coisa linda. Mas a paixão é como uma maçã muito bonita e suculenta. Espere só ficar um mês sem comer ela. Ela vai apodrecer. E era isso que acontecia dentro de mim. Algum tempo depois eu já estava paranoico e angustiado, por não sabem nem como dizer o que eu sentia para a pessoa. Ver ela namorar com outras pessoas e não poder ter ela para mim. (hoje eu dou risada, mas na época era como morrer todos os dias).

Foram diversas paixões que se seguiram, porque para completar eu ainda era platônico. Não tinha coragem de me declarar. E foram muitas mesmo, porque minha vida sempre me levava para lugares diferentes e eu fazia o favor de me apegar a alguém.
Teve uma vez que deu certo, eu me apaixonei, a pessoa também, só que ai depois não deu certo. E foi um arregaço no meu emocional. Porque a expectativa tava la em cima. E foi tão bom, sabe? No começo era tão gostoso poder acordar e falar:
"pourra... tenho um motivo para levantar. Vou fazer isso por alguém"

Que delicia. Que veneno. Que cagada. Não que seja errado acordar por alguém. Pais e Mães fazem isso por seus filhos todos os dias. Sobrinhos por seus tios enfermos. Amigos por seus amigos endividados. Médicos por seus pacientes. Batedores de carteira por suas carteiras. E por ai vai.
E então deu errado. E eu não entendi porque. Era tão maravilhoso, finalmente tinha acontecido. A musica fazia sentido. Eu ouvia todos os dias pensando nela e kabum! Brigamos. (e a musica ficou inaudível por meses)

Acho que brigamos porque a paixão era tanta que de repente queríamos domar o outro conforme nossas expectativas. Faltamos com respeito. O amor se explodiu rapidinho e aí... azedou. Nos odiamos para sempre e nos afastamos. Lembro da frase dela até hoje: "Você nunca me amou"
Depois disso eu tomei trauma de me apaixonar pelas pessoas. Comecei a sofrer muito toda vez que alguém se aproximava. Ai decidi cair na loucura. Mas que beleza! Um homem moderno fazendo o que todos os homens fazem. Se apaixonando por corpos esculturais e desejando trocar fluido corporal com todos eles. Mas... não... Eu não era assim. Eu era um rapaz romântico. Que ainda sonhava em ter uma família feliz e prospera. De me apaixonar perdidamente e ficar velhinho com ela. Então eu cai no limbo.
E foi ai que comecei a rever meus valores. Percebi que a paixão era algo muito presente em meu dia a dia. Aquela musica romântica começou a me dar ansiedade. Acho que foram dois ou tres anos tentando me curar da paixão. E olha... o universo foi um professor e tanto. Mandou pessoas que me arregaçaram. Se eu ousasse me apaixonar, elas se mostravam pouco receptivas e superficiais. Começou a não valer mais a pena me apaixonar. E eu fiquei vazio. Porque? Justamente porque eu vivia a base de paixões. Comecei a perceber que as pessoas estavam tão traumatizadas quanto eu. Todo mundo estava tentando lidar de um jeito e em geral era o afastamento. Eram como gatos que tomaram um balde de água fria e pulavam três metros ao sentir um respingo novamente. Tava todo mundo doente, sem nem saber.
Depois do choque, já muito cansado, comecei a investigar sobre o amor. E percebi que eu não amava verdadeiramente. As pessoas só serviam como itens colecionáveis e acumulo em minha vida. Decidi me dedicar a quem ja estava a minha volta e me afastar de quem eu não era saudável. E o tempo passou. E o universo ensinou. Eu tive que silenciar bastante minha mente para poder enxergar o que era amor e se eu realmente queria amar alguém de forma romântica. Então decidi me preparar. Mais do que ficar assistindo filmécos romanticos e musiquécas igualmente românticas e construindo uma ilusão. Decidi melhorar a ponto de achar o momento em que eu iria querer dividir uma vida com alguém. Sem neura. Sem imposição. Sem idealização. Eu me observo continuamente e percebo que me apaixono toda hora. As vezes por um sorriso. Uma curva. Um texto. Um momento. Mas ai eu deixo ir embora. Agradeço pelo instante e é isso. Não me apego. Compreendo que a paixão é um mecanismo necessário da vida. Você precisa se apaixonar por algo pra andar pra frente sem olhar para os lados as vezes. Mas se isso adoecer. Se apodrecer em você. Ai azedou.
Hoje tento me apaixonar por mim. O que é difícil já que minha auto estima ainda não é das melhores, graças ao tempo que dediquei aos outros. Tenho expectativas saudáveis sobre mim eu acho. E quem sabe um dia vou me apaixonar por alguém de novo ou seguir a vida sozinho. E ta tudo bem. Enquanto eu me tiver, eu terei o universo. Outra pessoa é só uma borboleta que visitará o meu jardim.

"Se quiser, pode ficar. Senão, pode voar. Sou grato pelo momento que te admirei" Jeff Borgs.


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